Antes de mais nada, o dado é preocupante e revela uma realidade difícil. Mulheres representam apenas 32% da força de trabalho nas indústrias brasileiras. Diante disso, os setores que mais empregam a mão de obra feminina são: confecções e vestuário (75%) e indústria farmacêutica (57%). A pesquisa foi realizada pelo portal Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Ao mesmo tempo, quando o assunto é liderança, a situação é ainda mais alarmante. Mulheres ocupam apenas 16,9% das posições de liderança em todo o mundo. Apesar do número baixo, houve um crescimento de 1,9% em relação a 2017. Assi, o Brasil fica na 38ª posição no ranking dos países analisados. Os dados foram coletados em uma pesquisa realizada pela Deloitte.
Já o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2019, revelou que a população feminina no Brasil é 51,8%. Ou seja, mais da metade da população. No entanto, a realidade do mercado de trabalho, sobretudo na indústria, mostra que mulheres ainda têm um longo caminho a ser percorrido na busca de igualdade de oportunidades.
Leia também: Eficiência operacional na indústria de alimentos
Mulheres na indústria farmacêutica
Por outro lado, as mulheres são maioria na indústria farmacêutica. De acordo com Claudia Sérvulo da Cunha Dias, Head de Comunicação da Novartis Brasil, elas estão ocupando posições de destaque. “Aqui, 67% das profissionais mulheres estão em cargos ligados à ciência, área essencial da empresa. No setor de desenvolvimento de fármacos são 92%”, afirmou.
A equidade de gênero é outra preocupação. “52% dos cargos de liderança são exercidos por mulheres, sendo 14% delas mulheres 50+ (com 50 anos ou mais). O compromisso da liderança da empresa com ações concretas estimula a inclusão e equidade”, disse. Além disso, Claudia Sérvulo explicou que a inclusão e equidade de gênero é uma questão estrutural. “Um dos pontos importantes para mudar esse cenário inicia-se antes mesmo da pessoa entrar no mercado de trabalho”, afirmou. Confira a entrevista completa:
Conte-nos um pouco sobre você? Qual é a sua formação e área de atuação?
Claudia Sérvulo Dias da Cunha – Sou formada em Direito com uma especialização na área de Psicologia e um MBA em Gestão da Comunicação. Minha trajetória não foi linear. Sempre me interessei por mudanças sustentáveis a partir do engajamento de pessoas. Nesse sentido, eu atuei na coordenação de comissões de políticas públicas.
Desenhei e liderei projetos e programas de direitos humanos e responsabilidade social e estratégias e projetos de comunicação. Isso, tanto no setor privado como no público, em organismos multilaterais, governos e empresas do setor de meio ambiente, infraestrutura e farmacêutico, no Brasil e fora.
Há quanto tempo você atua como Head de Comunicação da Novartis? Conte-nos o que representou para você ocupar esta posição? Quais barreiras precisou enfrentar?
Claudia Sérvulo Dias da Cunha – Entrei na Novartis, em 2018, como Head de Comunicação da unidade Farma de Negócios e, após transitar por outras unidades, hoje atuo como Head da Comunicação Corporativa e Engajamento Externo. Assim sendo, não posso dizer que tenha enfrentando grandes barreiras.
No entanto, a Novartis é uma empresa comprometida com a equidade de gênero, tanto que hoje, na Novartis Brasil, 52% cargos de liderança são exercidos por mulheres, sendo 14% delas mulheres 50+. O compromisso da liderança da empresa com ações concretas estimula a inclusão e a equidade.
Quais são as suas principais responsabilidades e atribuições dentro da indústria farmacêutica? Como você vivencia a jornada da inovação?
Claudia Sérvulo Dias da Cunha – Atualmente, dentre os meus desafios, encontra-se o de potencializar a ação da marca através de trazer mais visibilidade para a sociedade e stakeholders de sua contribuição com pacientes e sustentabilidade dos sistemas de saúde, bem como fortalecer a força de atração de talentos.
Outro ponto importante é catalisar discussões e interações de qualidade sobre os desafios e oportunidades de fortalecer o sistema de saúde no país, pois é necessário que consigamos fazer frente aos obstáculos enfrentados para que pacientes tenham suas jornadas encurtadas, com o devido acesso e aos serviços necessários para que possam ter maior qualidade de vida.
Acima de tudo, a inovação é vivenciada tanto através do acompanhamento das novas tecnologias em saúde, como as terapias gênicas e celulares que foram pioneiramente trazidas pela Novartis para o país, como no dia a dia de tentar ter mais impacto através da própria comunicação.
Assim, as pessoas e o contexto das pessoas mudaram significativamente nesses últimos anos e essas mudanças interferem na forma que consomem e interpretam conteúdo, na que acham relevante. Certamente é importante estar aberto ao outro quando se quer fazer uma comunicação de real impacto.
Saiba mais: Robotização e inteligência artificial na indústria farmacêutica
Sabemos que a desigualdade de gênero no mercado de trabalho no Brasil ainda é muito grande. Na sua opinião, o que precisa mudar para que mulheres sejam respeitadas e tenham oportunidades de liderar e inovar?
Claudia Sérvulo Dias da Cunha – A saber, acredito que a inclusão e equidade de gênero seja uma questão estrutural para o qual não temos apenas um tiro certeiro de resolução. Um dos pontos importantes para mudar esse cenário inicia-se antes mesmo da pessoa entrar no mercado de trabalho.
Inicia-se na forma como a menina vive e é estimulada a viver suas possibilidades educativas. Especificamente em relação ao mercado de trabalho, é importante que políticas de adesão voluntária a promoção da equidade de gênero permaneçam a existir, como rankings e pactos setoriais, bem como políticas de controle para situações de assédio e exclusão.
Por outro lado e igualmente importante, é necessário que mulheres fortaleçam-se e, nesse sentido, grupos de mulheres são importantes.
Como é ser uma mulher líder na indústria farmacêutica? Quais habilidades, comportamentos e atitudes precisou desenvolver?
Claudia Sérvulo Dias da Cunha – Acredito que, no geral, o grande ponto é a autoaceitação e a quebra de crenças culturalmente impostas, mas aceitas por nós e que acabam permeando os espaços de trabalho. Aliás, humildade e autoconsciência são fatores importantes para reconhecermos que não conseguimos dar conta de tudo e cuidar de todos.
É comum que mulheres sintam culpa por dedicarem-se ao trabalho quando têm filhos e que sofram mais da síndrome de impostora. Da mesma forma, enxergar homens e mulheres de forma equânime é um exercício importante a ser feito diariamente, pois é o primeiro passo para se colocar de forma equânime nas relações.
Qual a sua visão sobre a indústria farmacêutica, e como as mulheres estão contribuindo com a transformação do setor?
Claudia Sérvulo Dias da Cunha – Na Novartis Brasil, 67% das profissionais mulheres estão em cargos ligados à ciência, área essencial da empresa. Se considerarmos somente o setor de desenvolvimento de fármacos, os números são ainda maiores – elas representam 92%.
Esses dados espelham como as mulheres estão contribuindo com a transformação do setor na sua parte mais essencial, o desenvolvimento de novas tecnologias em saúde.
Além disso, é importante mencionar também o papel das profissionais mulheres de enfermagem que trouxeram uma nova visão para os serviços de suporte ao paciente que a empresa oferece para algumas indicações.
Como a indústria pode incentivar mulheres a serem cientistas e pesquisadoras?
Claudia Sérvulo Dias da Cunha – Continuar dando o espaço para que atuem em equipes de pesquisa e desenvolvimento, criando algumas posições afirmativas e dando visibilidade ao importante papel dessas mulheres para o avanço da medicina e da qualidade de saúde de homens e mulheres no mundo.
Quais dicas, orientações e conselhos você poderia deixar para outras mulheres que almejam liderar, assim como você?
Claudia Sérvulo Dias da Cunha – Tem uma palavra em inglês que eu gosto muito e que é de difícil tradução. É a palavra GRIT que é, geralmente, traduzida como GARRA, mas é mais que isso. Se quebrarmos a palavra em letras, teremos uma visão melhor do que consiste G.R.I.T:
– Garra e disposição para correr riscos e demonstrar coragem frente às incertezas da vida;
– Resiliência para levantar depois de cair e se recuperar rapidamente quando diante de desafios;
– Intencionalidade na vida que vem da compreensão de quem você é, quem você quer ser e do compromisso pessoal de fazer o que precisa ser feito para chegar lá com integridade e saúde;
– Tenacidade que consiste na sua determinação de continuar a seguir na jornada a despeito dos desafios e das quedas, aprendendo e se fortalecendo com o acerto e com o erro.
Qual é a mensagem que tem para dizer neste “Dia Internacional da Mulher”, data que ainda representa a luta feminina diante da sociedade e de tantos problemas sociais?
Claudia Sérvulo Dias da Cunha – A pandemia demonstrou que somos líderes inovadoras e que conseguimos resultados cuidando das pessoas através de uma liderança empática. Este é o caso da presidente da Nova Zelândia. Ao passo que comprovou que acabamos sendo as mais afetadas por essas grandes transformações sociais.
Aliás, os dados apontam que mulheres tiveram sua empregabilidade e saúde mental e física mais diretamente afetada durante esses dois últimos anos. Questões culturais que impõem que mulheres cuidem dos outros mais do que delas mesmas ainda rondam o pensamento de muitas de nós.
Contudo, é importante que reconheçamos nosso direito de ser cuidada e que vejamos na nossa prática de cuidar uma escolha e não uma obrigação.
Isso é, a partir desse lugar de pessoa digna de direitos e cheia de emoções é que passamos a nos posicionar de uma maneira a demonstrar para o outro o nosso valor e de maneira respeitosa. Para assim, nos colocarmos na sociedade com a ciência que temos muito a evoluir, mas também muito a contribuir. E que, na verdade, já estamos contribuindo.
Qual é o recado que você deixa para outras mulheres?
Claudia Sérvulo Dias da Cunha – Acho importante que mulheres estejam disponíveis para compreender o impacto das crenças culturais da discriminação e gênero para que não reproduzam falas e comportamentos excludentes. E, mais do que isso: para que apoiem a jornada individual das mulheres e que influenciem a mudança coletiva que impacto a todos e todas. Assim, uma sociedade injusta para um grupo é injusta, no final, para todos.
A Platt by Timenow tem as soluções ideais para acelerar a transformação digital nas indústrias. Somos uma plataforma especializada em conectar startups e indústrias dos mais variados segmentos. Oferecemos as mais diversas soluções, ferramentas e tecnologias que poderão revolucionar processos, reduzir custos e gerar resultados.
Quer saber mais? Clique aqui e fale com um consultor.